04 maio 2008

A problemática da Criptozoologia: a crença e o conhecimento científico

O seguinte excerto foi retirado da obra de Júlio Verne, “20.000 Léguas Submarinas”. Trata-se de um diálogo entre três personagens; é o exemplo perfeito da problemática da Criptozoologia, ou seja, nesta pequena conversa amigável encontramos o acreditar no mito/lenda e o conhecimento empírico, que corresponde ao domínio da ciência.

Apesar de ter sido escrito em 1869, as suas temáticas continuam (muitíssimo) actuais…

«– Lamento muito – disse Conseil –, gostaria de ver um desses polvos de que tanto ouvi falar e que podem arrastar navios para o fundo dos abismos. A esses animais chamam krak…
– Nunca me farão acreditar que esses animais existem.
– Porque não? – perguntou Conseil. – Acreditámos no nerval.

– E errámos, Conseil.
– Sem dúvida, mas há-de haver muita gente que ainda acredita.
– É provável, mas, quanto a mim, só acreditarei na existência desses monstros quando os dissecar com as minhas próprias mãos.
– E o senhor, acredita nos polvos gigantescos?
– Quem alguma vez acreditou! – exclamou o canadiano.
– Muito gente, amigo Ned.
– Pescadores certamente que não. Talvez sábios!
– Mas eu afirmo que me lembro perfeitamente de ter visto – disse Conseil, com o ar mais sério do mundo – uma grande embarcação arrastada pelos tentáculos de um cefalópode.
– Viu isso? – perguntou o canadiano.

– Sim, Ned.
– Com os seus próprios olhos?
– Com os meus próprios olhos!
– E onde, se não se importa?
– Em Saint-Malo – respondeu Conseil, imperturbável.
– No porto? – perguntou Ned Land, irónico.
– Não. Numa igreja! – respondeu Conseil.

– Numa igreja! – exclamou Ned Land.
– Sim, meu amigo. Era um quadro que representava o polvo.
– Ah! – exclamou o canadiano, desatando a rir. – Essa tem muita piada.
– De facto, ele tem razão – disse eu. – Já ouvi falar desse quadro, mas o animal que representa foi tirado de uma lenda e sabem o crédito que se deve dar a lendas em matéria de história natural. Aliás, quando se trata de monstros, a imaginação não tem limites.»




20.000 Léguas Submarinas, by Júlio Verne, adaptado

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